sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Dez anos sem Chico Science


Se alguém havia de empurrar a energia musical nordestina para dentro do rock’n’roll e fazer o mundo ouvir, esse alguém tinha de ter um apelido meio brasileiro, meio americano, meio tecnológico, algo assim como Chico Science. O homem nasceu em Olinda, em 13 de março de 1966 — mesmo ano de Marcelo Mirisola, Mike Tyson, Romário, Fernandinho Beira-Mar: mas que gente irriquieta! — e só teve 30 anos para “incentivar a música popular brasileira a ser realmente pop”, nas suas palavras. Em 2 de fevereiro de 1997, ele pediu emprestado o Fiat Uno Mille da irmã — seria difícil estacionar seu Landau 79 nas imediações do show ao qual levava um amigo. Pouco depois, perdia a vida ao bater num poste na divisa de Recife e Olinda.

A carreira musical de Chico Science começou nos anos 80 no grupo Orla Orbe, para o qual levou sua tendência rapper desenvolvida na participação na Legião Hip Hop, grupo de street dance. Depois surgiu o Loustal, banda em que Chico e seus parceiros Lúcio Maia e Alexandre Dengue misturavam rock, hip hop, ska, funk e soul.

Em 1991, alguns jovens reunidos no bar Cantinho das Graças, no Recife — Fred 04, que depois viria a liderar o Mundo Livre S/A — viram Chico Science chegar entusiasmado depois de uma jazz session com os integrantes do Lamento Negro, grupo de samba reggae da periferia. A percussão o entusiasmara: “peguei um ritmo de hip hop e joguei tambor de maracatu. Vou chamar essa mistura de mangue”. Da teoria à prática: ele juntou a turma do Loustal a percussionistas do Lamento Negro, como Toca Ogan, Gira, Gilmar Bola 8 e Jorge du Peixe, e estava fundada a banda Chico Science e Nação Zumbi. Ou melhor, estava fundado o mangue beat, que misturava rock, black music, rap, maracatu, música eletrônica e coco.

Como disse Fred 04, aquela geração percebeu que o Recife tinha muito mais a dizer musicalmente que Seattle, a queridinha da época com seu grunge. Formou-se um ambiente cultural propício ao desenvolvimento sonoro. O mangue beat teve até manifesto, o texto Caranguejos com Cérebro, escrito por Fred 04.

Entre 94 (ano do disco Da Lama ao Caos) e sua morte, ele “e a Nação Zumbi fizeram aquilo que somente um seleto grupo de músicos tem conseguido: criaram um híbrido capaz de evoluir até se tornar um estilo que um dia será hibridizado por outra geração” — palavras do crítico Neil Strauss no NYTimes após assistir a um show do grupo no Central Park em 1995.

Chico Science e seus parceiros gostavam de afirmar que o mangue beat era uma antena parabólica cravado no manguezal e trasmitindo para o mundo. Aliás, ainda transmite, tendo ecos no som de Mundo Livre S/A, Otto, Nação Zumbi, DJ Dolores, Lenine, Bonsucesso Samba Clube, Mombojó, Junio Barreto, Suvaca di Prata, Mestre Ambrósio, Siba, Cordel do Fogo Encantado, Devotos, Monjolo e Eddie.
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