terça-feira, outubro 31, 2006

Britanizando (ou então “disseminando a leitura coletiva”) o metrô paulistano


Duas coisas que eu adoro são o Metrô e a cidade de Londres.

O Metrô, para mim, é o melhor meio de transporte que existe: voccê entra nele, relaxa, apenas espera chegar em seu destino. Ele não se atrasa, não pega trânsito... enfim, sensacional.

Já Londres é uma cidade, por um certo ponto de vista, até feia: seu clima cinzento e a tão famosa fog assustam quem curte uma prainha. Não a mim. Lá é o berço da maioria das coisas que eu gosto na vida, como o Futebol e o Rock. Como não amar a Bretanha? Como não amar a cidade de Londres?

Em Julho de 2003 tive a oportunidade de conhecer, justamente, o metrô de Londres. São dezenas de linhas e centenas de estações. Pode se chegar a qualquer ponto da cidade através. Lá, eles o chamam de “Undergroung” ou carinhosamente de “Tube”.


Um ponto negativo é a sujeira. Lá, eles não tratam o metrô como um patrimônio (enquanto nós, baderneiros do 3º mundo, ironicamente, tratamos): o metrô é sujo e pichado, e as garrafas de refrigerantes rolam pelo chão dos vagões sem dó nem cerimônia.

Mas o que mais me chamou a atenção no Tube foi o seguinte fato: as pessoas entram no vagão com seus jornais na mão. As pessoas passam a viagem lendo seu jornalzinho e, quando chegam em sua estação de destino, dobram e deixam o jornal no assento que ocupavam, para que outra pessoa possa lê-lo! Sensacional! É a coletivização da leitura descartável (afinal, jornal velho, como diz um velho ditado e também a Gabi, serve apenas para embrulhar peixe).


Depois dessa introdução, volto ao dia de hoje, típica Segunda-feira na Paulicéia. Vim de Santos hoje mesmo, de busão, e depois tive que pegar o metrô do Jabaquara até a Praça da Arvore. São apenas cinco estações, mas como o Jabaquara é ponto final e também rodoviária, a estação fica sempre bombando.

Carrego em minhas mãos o Lance!, jornal diário sobre futebol. Como já o havia lido no bumba (uma hora de viagem entre Santos e São Paulo), pensei: “e se eu tentasse dar uma de bretão? Afinal, já li esse jornal todo, não preciso mais dele, e se eu deixá-lo em algum assento, alguém o lerá. Oras, por que guardar este jornal velho comigo, se alguém pode achá-lo interessante?”

Dito e feito, resolvi largar o jornal em algum assento. No entanto, encontro o primeiro dilema: como já disse acima, a estação Jabaquara fica cheiona. Portanto, é claro que não havia assentos vazios. E a tendência seria o vagão fica ainda mais cheio com o passar as estações

Decepção? Um pouco.


Mas não desisto.

Desço na Praça da Arvore e avisto, logo de cara, uma lixeria, com uma tampa de tamanho médio, que parecia servir como uma espécie de vitrine. Não era o local mais adequado para se deixar o jornal, mas seria minha última chance. Enquanto tento equilibrar o jornal de pezinho, acima da tampa, um rapaz, que acabara de cruzar meu caminho, passa a andar mais lentamente, observando que raios estou fazendo. Consigo deixar o jornal direitinho e, penso eu, "dever cumprido". Não como queria originalmente, mas, pelo menos, o jornal não foi para direto para o lixo, ficaria ali exposto.

Tomo meu rumo e vejo que o tal rapaz permaneceu parado. Agora sou eu quem cruza o seu caminho, em direção à escada rolante. Depois de subir tudo, olho para trás. E o que vejo? O tal rapazinho com o jornal nas mãos, desfrutando de uma boa leitura.

Bingo! Deu certo! A coletivização da leitura deu resultado!

Não foi como eu imaginei, não foi do jeito bretão, não foi com garbo e charme. Mas, quer saber? Que se dane! O que importa é que eu já tinha lido o jornal, não queria mais e, antes que eu pudesse colocá-lo junto ao lixo reciclável, mais alguém (e talvez mais pessoas, afinal, o rapaz que pegou o jornal deve ter amigos, família, etc.) se aproveitou de tal leitura.



Olha aí, Lula! Depois do Fome Zero, que tal o Leitura Zero? Não custa nada e o modelo já está feito, basta copiar o metrô dos Bretões. Aliás, copiar não, fazer Benchmark, né? ;-)

Investimento pesado em Leitura e Metrô. O que você acha, Sr. Presidente? Vamos coletivizar as coisas! Ou então, um termo que você provavelmente gostaria mais de usar: socializar.

Comentários
Genial, cara!!! Viva LONDON!!!

Apenas dois comentários.
1 - A cidade de Londres é feia??? Vai se fuder!!! Hahaha... A cidade é linda, e o clima cinzento só acontece no inverno. Aliás, quando vc esteve lá, era um calor tropical. Nao sei porque voce pode achar que a cidade é feia e cinzenta.

2 - O metrô lá é sujo por um motivo simples: não há latas de lixo pra voce jogar seu lixo.
E por que? Porque infelizmente aquela cidade já foi algumas vezes vítima de malucos terroristas que explodem bombas no metrô. E, antigamente, várias delas estavam dentro das latas de lixo.

Entao, é preferivel ver um pouco de sujeira do que correr o risco de sair pelos ares de uma hora pra outra.

Mas, enfim... parabens pela sua iniciativa de socializar a leitura.
Vamos que vamos.

E Mind The Gap!!
 
Londres é feia e suja meeeeesmo!!!!! Bonita e limpa, só Santos!!!! Onde o ponto de referência é o esgoto, digo, canal!!! HEHEHEHEHE!!!
 
Gostei do texto... e gostei mais ainda da idéia! Socializar... eita verbo difícil de se colocar em prática!! Mas vale a iniciativa de pessoas especiais como você...

PS: Ao contrário do que se pensa, os canais servem para escoar água e não esgoto.
Aliás, existe um site só sobre os canais de Santos que comemoraram 100 anos!!
http://www.canaisdesantos.com.br/historia.htm
 
Dá-lhe Tricolor! Tri Mundial!

Chora freguês!
 
Chora freguês!

Dá-lhe Tricolor!
 
Não pago pau pra Londres!
Adoraria ver vc colocando o jornal no banco do trem e quando vira-se as costas uma bahianinha de dente azul cobalto iria correndo te devolver! Tipo :"esqueceu seu jornal seu moço!"
E o pior seria se isso acontecesse diversas vezes, até que vc ficasse preso na estação durante horas tentando chegar ao seu objetivo! Nossa, me empolguei, deixa pra lá!
Abração do Lobo
 
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