O Debate de ontem foi uma verdadeira carnificina. Alckmin, fazendo juz ao papel de oposição e de quem precisa desesperadamente de votos para virar a peleja, frente a última pesquisa Datafolha que diz que ele está 8% percentuais atrás, já saiu dando com o dois pés no peito do Lula logo na 1º pergunta: "Gostaria, antes de mais nada, de dizer que eu compareci a todos os debates. Lula, você é a pessoa no país com o mais fácil acesso a informações de todos os gêneros. Então responda: de onde vieram os 1, 7 milhão de reais para comprar o dossiê?"
Essa foi apenas a primeira pergunta do debate. Imagine, então, as duas horas e meia subsequentes.
"Leviano" e "mentiroso" foram alguns dos elogios utilizados pelos dois candidatos. Alguns momentos chegaram a ser constrangedores, e o maior deles foi quando Alckmin questionou o cartão de crédito corporativo. Hahaha. Aí sim, finalmente, a oncinha saiu pra beber água. Os olhos do Sapo Barbudo conseguiram ficar ainda mais esbugalhados, e o seu tom de voz de Mafioso foi assustador: "não entre nesse mérito, Alckmin. é só isso que lhe aviso, não entre nessa questão". Um pouco antes, Lula havia dito que essa foi a "única coisa boa que o governo Fernando Henrique criou" e tal pérola não passou desapercebida, arrancando gargalhandas da platéia.
O debate foi se seguindo com contínua troca de farpas. Acho que o melhor momento do Lula foi quando Alckmin questionou, espinafrandro, sua política externa. Mal sabia o Tucano que cometera um erro. Não posso questionar a veracidade do que o Lula disse, mas ele deu um baile, tanto na resposta quanto na tréplica, explicando que o Brasil agora negocia com o mundo todo, e não apenas com o eixo EUA-Europa, e também ratificou a posição dos países da América Latina na condição de parceiros, e não de "subalternos".
Já o melhor momento de Alckmin foi quando ele relatou seu plano de governo e perguntou: "Onde, dentre as 316 páginas do plano, está escrito que irei privatizar Banco do Brasil, Petrobrás e acabar com o Bolsa-Família?" Lula, enrolou, enrolou, tentou fugir pela tangente... mas não deu: nessa ele ficou sem resposta. Outro ponto esdrúxulo do Lula foi ficar falando coisas como "não fica nervoso, Alckmin..." e "Alckmin, porque vocês está nervoso? Não fique nervoso!" Caramba, Lula, eu usava isso contra a minha irmã quando eu tinha 13 anos e ela 16... vê se cresce, né...
No final das contas, fica um sentimento de ranço: parecia que tínhamos dois galos numa rinha (não mostrem esse texto pro Duda, ein?), se degladiando, tentanto discutir "qual era pior": o menos ético, o menos competente. O atual presidente ou o ex-governador? Os quatros anos de PT ou os oito de Tucanos (na presidência)?
De assuntos de interesse nacional, só foi falado da capacidade energética do Brasil, que está no limite. Se não investirmos pesadamente nesse setor, em 2009, corre-se o risco de termos outro apagão. Pois é, quando pensei que teríamos uma discussão de alto nível, os dois começaram a falar de 16 mil megawatts para cá, 13 mil megawatts para lá... vem cá, além do meu amigo Lucas Chioro, formado em engenharia elétrica, alguém aí sabe o que raios é megawatts? Candidatos, por favor, nem vocês sabem... falém na nossa língua da próxima vez, OK?
Enfim, se for para escolher um vencedor do debate, acho que foi o Alckmin. Postura firme e confiante. O Lula me pareceu o tempo todo um pouco assustado, meio incomodado de estar onde estava. Olhando por esse prisma, acho que o Alckmin mandou melhor.
No entanto, do prisma que realmente interessa, que é o meu e o seu, o nosso, o do povo, não tivemos nenhum vencedor, apenas perdedores. Nós perdemos, o Brasil perdeu.
Meninos, melhorem: esperamos mais de vocês para o próximo debate.
Ontem não tivemos dois candidatos debatento, tivemos dois senhores destemperados discutindo quem é o mais ou menos ético.
O Brasil é bem maior do que essa guerrinha particular.